sábado, fevereiro 04, 2006

Setenta e oito... Invernos?

No passado dia um o meu avô fez setenta e oito anos. Bonita idade, pensei. cantei-lhe os parabéns olhos nos olhos. Os seus olhos estavam brilhantes. Uma lágrima ousou percorrer-lhe o rosto queimado pelo sol. Sei que não devo passar muitos mais aniversários com ele. Quem sabe este não foi o último...?
Á noite, em conversa com a minha mãe, começamos a recordar bons velhos tempos. Eu tentei recordar os bons. Contudo, ela apenas recordou a infância triste e de trabalho que teve. Será que não teve momentos felizes, perguntei-me! Porque será que faz tanta questão de reviver os maus e de chorar sobre o passado? E continuou, a falar da vida de trabalho, de sol a sol, que os avós levavam. Nunca tiveram uma vida fácil. O dinheiro mal chegava. Os filhos e os seus problemas de sáude. Criaram os netos, incluindo eu. Com tantos momentos negativos, pensei seria justo celebramos as "78 primaveras" do avô ou se não seria melhor celebrarmos antes os "78 invernos". Pergunto a mim mesma se não tiveram momentos felizes na vida deles. Mas depressa, uma resposta afirmativa me invade o pensamento. Toda a gente tem momentos felizes na vida. O Homem é que não sabe aproveitá-los. Vivê-los com a máxima intensidade. E mais tarde recordá-los com toda a ternura que merecem. Sei que por trás daquele rosto sofrido e daquele olhar já cansado, está um homem cheio de força e de coragem. Um lutador por direito.
"talvez seja o ultimo que o vemos passar a sorrir...", dizem-me num tom magoado. E se for? É a lei imperativa da vida. Vai ser assim com todos. E como o vamos recordar? A chorar? A derramar lágrimas sobre um corpo já frio? Eu não quero que seja assim. E ele também não. Foram poucas as vezes que vi este homem chorar. Relembro uma frase dele para a minha avó, quando estive doente. Enquanto ela derramava lágrimas e se lamentava pela minha situação, ele diz-lhe: "Então mulher, que havemos de fazer, se o destino o quiser assim?"
O meu avô ainda está vivo. Deixem de pôr "ses" na vida. Quando acontecer, aconteceu. Ninguém escapa a esta lei. E quando acontecer, não vou chorar as tristezas de uma vida de trabalho e amargurada que teve. Vou Cantar a alegria da sua luta nesta vida. Da sua coragem. Vou fazer chorar o meu violino, na mais doce e terna melodia...
Irei recordar-te sereno, como o som da musica que o violino insiste em chorar...

1 comentário:

K'os disse...

Da vida fazemarte os lados tristes, e que teimam surgir quando mais tarde nos tentamos recordar, são sempre os primeiros a surgirem!!
Porquê!? Depoisentão lentamente surgem os bons e são esses que devemos guardar e fazer força para ficar são eles que nos dão a força para seguir em frente.

Por isso enquanto o tens goza a presença dele, pois com o avançar da idade o fim que todos temos, mais próximo está dele.

Bjs
:)