quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Tempestade...


Estou de volta... Mas sem grande inspiração. Faltam-me as palavras. Falta-me o dialecto. Falta-me a garra. Mesmo assim, vou tentar escrever algo.... ainda não sei bem o quê, mas alguma coisa se há-de arranjar.
Ultimamente tem-me dado para a reflexão. Deve ser da mudança do tempo. Entre um raio de sol e o barulho de um trovão, fecho-me nas minhas quatro paredes tentando fugir deste medo que me apavora. Arrepio-me. Detesto a trovoada. Entro em pânico só de ouvir o trovão. Quanto mais ver os raios. Ligo o despertador no máximo de volume. Deito-me sobre a cama acabada de fazer. Que irritação, apenas consigo ouvir o clamor de mais um relâmpago liberto. Porque será que os meus ouvidos não se ligam aquela música já gasta de tanto passar na rádio? Fez-se silêncio na rua. Deixo-me levar por aquele novo trovão. Envolvo-me num emaranhado de pensamentos, dos quais não me consigo libertar, nem sequer organizá-los na minha mente, como se de ficheiros se tratassem. Penso nos acontecimentos dos últimos dias. Faço um balanço do fim de semana. Tenho andado mais calma. Deixei o “stress” (não sei porquê, esta palavra chateia-me...) longe da minha vida. Pelo menos aos fins de semana. Quero voltar a ser eu. Reencontrar aquela menina, feliz e sorridente. Apetecia-me ter por aqui o meu violino e tocar. Tocar até me doerem os dedos. Até as cordas partirem. Até toda esta confusão da minha cabeça desaparecer. Até a tempestade acabar. Relembro velhos conselhos, de um sábio. As palavras dele ecoam-me na cabeça. “Temos que saber viver a vida...” . Não me consigo recordar do resto da frase, mas também não é preciso. Isto, para o momento é mais do que suficiente. É o que preciso neste momento. Viver a vida. Da melhor maneira. De forma a ser feliz. Nem que por momentos o seja. Preciso de recuperar a alegria de viver. De deixar esta minha capa de protecção. De deixar de aparentar para ser.
A tempestade acalma-se agora lá fora. Será que já chegou ao meu coração?
Vou regressar á rotina semanal. Tenho alguns planos em mente. Quem sabe, se não dão certo e a minha alegria não aumenta um pouco mais...?
Estarei de volta, em breve, á minha serenidade...
Ao som melodramático do violino... e da vida.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

Aprisionada...

Regressei á cidade invicta. Recomeço um novo semestre. Muito trabalho espera por mim. Aulas, seminários, estágio. Como eu detesto esta faculdade! As pessoas deste sitio são deploráveis. Poucos são os "humanos" por aqui. Se eu pudesse voltar atrás, nunca teria vindo para este sitio, que até agora só me trouxe sofrimento. Tudo bem, eu sei que até tenho jeito para o curso. Mas não se avalia a vida de uma pessoa pelas notas que tem. Desde o primeiro ano, que vim para aqui, que quase todos os dias choro. Contudo, não invejo as pessoas que sorriem. Pois o seu sorriso não passa de aparência. Por dentro gritam. Talvez mais do que eu. Sinto-me aprisionada aqui. Talvez por esta ser desde o inicio uma faculdade de alto gabarito, por estarem aqui os "filhinhos dos senhores fulanos de tal". Nesta faculdade tudo se rege pelo dinheiro. Não há valores. Quem tem dinheiro é rei. Quem não tem é posto de parte. Avaliam-se as pessoas pelas grandes marcas e pelas ultimas modas, pelos telemoveis topo de gama, pelos carros de alta cilindrade... Esses têm tudo. Eu aqui não tenho nada. Mas lá fora também não terei muito mais. Não tenho amigos aqui. Não gosto de estar aqui. Sou excluida, porque a minha conta bancária tem muitos zeros á esquerda. Não consigo perceber esta forma de vida. Sou simples de mais para esta vida. Porque é tão hipócrita e arrogante este mundo? Por que será que são tão poucas as pessoas autênticas? Onde estão os justos? Não sei viver assim. A minha vida precisa de ter uma pancada saudável. Aqui apenas existem cópias de tudo o que já foi feito. De tudo o que já foi dito. Não sou daqui. Refugio-me mais uma vez, no som... ouço um leve chilrear... Por entre, os ruidosos sons da cidade, um pássarao insiste em expressar o seu canto... sinto-me um pouco como ele... aprisionado naquela cidade... Longe do emu habitat natural... Preciso de respirar a minha música... de fazer chorar o meu violino... De cumprir o meu ritual...
chora agora o violino, entre agudos estridentes de revolta...

sábado, fevereiro 04, 2006

Setenta e oito... Invernos?

No passado dia um o meu avô fez setenta e oito anos. Bonita idade, pensei. cantei-lhe os parabéns olhos nos olhos. Os seus olhos estavam brilhantes. Uma lágrima ousou percorrer-lhe o rosto queimado pelo sol. Sei que não devo passar muitos mais aniversários com ele. Quem sabe este não foi o último...?
Á noite, em conversa com a minha mãe, começamos a recordar bons velhos tempos. Eu tentei recordar os bons. Contudo, ela apenas recordou a infância triste e de trabalho que teve. Será que não teve momentos felizes, perguntei-me! Porque será que faz tanta questão de reviver os maus e de chorar sobre o passado? E continuou, a falar da vida de trabalho, de sol a sol, que os avós levavam. Nunca tiveram uma vida fácil. O dinheiro mal chegava. Os filhos e os seus problemas de sáude. Criaram os netos, incluindo eu. Com tantos momentos negativos, pensei seria justo celebramos as "78 primaveras" do avô ou se não seria melhor celebrarmos antes os "78 invernos". Pergunto a mim mesma se não tiveram momentos felizes na vida deles. Mas depressa, uma resposta afirmativa me invade o pensamento. Toda a gente tem momentos felizes na vida. O Homem é que não sabe aproveitá-los. Vivê-los com a máxima intensidade. E mais tarde recordá-los com toda a ternura que merecem. Sei que por trás daquele rosto sofrido e daquele olhar já cansado, está um homem cheio de força e de coragem. Um lutador por direito.
"talvez seja o ultimo que o vemos passar a sorrir...", dizem-me num tom magoado. E se for? É a lei imperativa da vida. Vai ser assim com todos. E como o vamos recordar? A chorar? A derramar lágrimas sobre um corpo já frio? Eu não quero que seja assim. E ele também não. Foram poucas as vezes que vi este homem chorar. Relembro uma frase dele para a minha avó, quando estive doente. Enquanto ela derramava lágrimas e se lamentava pela minha situação, ele diz-lhe: "Então mulher, que havemos de fazer, se o destino o quiser assim?"
O meu avô ainda está vivo. Deixem de pôr "ses" na vida. Quando acontecer, aconteceu. Ninguém escapa a esta lei. E quando acontecer, não vou chorar as tristezas de uma vida de trabalho e amargurada que teve. Vou Cantar a alegria da sua luta nesta vida. Da sua coragem. Vou fazer chorar o meu violino, na mais doce e terna melodia...
Irei recordar-te sereno, como o som da musica que o violino insiste em chorar...

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Parte de mim...

Hoje, quando acordei, foi a primeira musica que me passou pela cabeça. Já não a ouvia há uns tempos... Fez-me recordar tempos idos... Fez-me perceber o infinito amor que tenho para dar dentro de mim... Recordou-me de tempos amargos, em que houve um homem na minha vida que nunca me abandonou. Nunca desistiu de mim. De nós. Contra tudo e contra todos. Hoje, se sou feliz, a ele o devo. Finalmente, após quatro anos, percebi o verdadeiro signifcado destas palavras...

"Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou.
Se tu quiseres, assim
Meu corpo é o teu mundo
E um beijo, um segundo
És parte de mim.
Para onde olhares, eu corro
Se me faltares, eu morro.
Quando vieres distante,
Eu solto as amarras
E tocam guitarras por ti
Como dantes..."
Pedro Abrunhosa

Fiz isto, só para agradecer a este homem... Por tudo o que fez, e continua a fazer por mim...
Obrigado por me teres ensinado a amar....

Cruzam-se agora, em serena harmonia, os sons do incansável piano e o choro doce do violino...